Assim é J.A. SILVA: ativista da terceira idade, autor prolífico com cerca de cem livros por ele mesmo publicados e confeccionados, primeiro poeta laureado de Goiana-PE (na verdade, primeiro poeta laureado de uma terra que fale português), contista conceituado, com sua atual obra-prima, as muitas histórias que acontecem na ficcional e espantosa cidade de Esperança dos Perdidos (ou dos Caídos), membro do Grupo Terça com Poesia (TCP) e um dos fundadores do Clube de Leitura do TCP. Foi o primeiro entrevistado do BLOG LITERANIS. Você pode conferir a entrevista dele AQUI. Segue abaixo seu primeiro conto para este blog. Não por coincidência, é uma das inúmeras histórias da pitoresca Esperança dos Perdidos.
VIAGEM VISIONÁRIA
Por J. A. SILVA
Como não tinha nada a fazer durante a semana momesca, pois não houve Carnaval, resolvi fazer uma visita a cidade que criei.
Fazia muito tempo que não aparecia por Esperança dos Perdidos, por isso as pessoas conhecidas tornaram-se poucas, mas o famoso Cantinho do Céu, que foi fundado por Dona Santa, ainda existia, porém não mais como um simples cabaré. Agora era uma agitada boate, dentro do Hotel Esperança, que ostentava o nome “Gran Boate Cantinho do Céu". Ali já era um prédio de dez andares, com um salão enorme na parte de baixo, servia de boate e os outros andares era parte do hotel. A diária custava R$ 200,00 com direito ao café da manhã.
Escolhi ficar na cobertura do 10º andar, deram-me o apartamento 108 e a moça recepcionista recomendou-me que não escolhesse o 113, último no fim do corredor.
Visitei o centro da minha cidade das 19h às 21:30h e recolhi-me para um merecido descanso. Tomei um banho refrescante, troquei de roupa e mal acabava de deitar, quando escutei um grito, um pedido de socorro, vindo do quarto 113. Mesmo de roupão, porém com minha corrente e a imagem de Jesus pendurados no pescoço, criei coragem e fui até o 113. Era tudo silêncio. Minha curiosidade aumentou e eu bati à porta.
Ouvi passos vindo abrir e... De repente apareceu um sujeito de aspecto horrível, com a cara toda suja de sangue. Ainda tive tempo de dar uma olhada no interior e vi uma moça de vestido amarelo, caída, barriga aberta, e dois outros sujeitos curvados sobre ela, sugando o sangue do corpo. O brutamontes que veio atender a porta, pegou-me pelos braços e, ao fazer isso, a medalha com a imagem de Cristo bateu em seu braço, fazendo uma queimadura profunda. Então ele gritou:
− Vai embora, Cristão maldito! Essa medalha me queimou.
Empurrou-me para fora e bateu a porta.
Voltei ao meu apartamento, peguei o celular e liguei para a portaria, bastante agitado e assustado, narrando o evento, quando a atendente respondeu:
− Tenha calma, senhor! O senhor teve apenas uma ilusão de ótica. Este apartamento faz um mês que não é ocupado.
Resolvi deitar-me, porém não consegui dormi direito. Assim que amanheceu, lá pelas cinco da madruga, fui novamente até aquele apartamento, toquei na campainha, bati na porta, e como não havia nem sinal de alma viva, resolvi mexer no trinco da porta, quando ela escancarou-se. Adentrei e observei tudo, arrumadinho, no seu devido lugar, acusando que ninguém esteve ali recentemente.
Confesso que regressei na quarta-feira de cinzas para minha cidade, “Terra das Águas Cristalinas", e até hoje estou intrigado com aquele acontecimento.
Goiana, 21/02/2021.
Nota: "Terra das Águas Cristalinas" é um famoso apelido da cidade de Goiana, muito usado por J.A. SILVA em seus trabalhos.
Parabéns senhor José
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